2600 metros de vaidade e despesismo


Pois é … assistimos, há dias, à inauguração do túnel do Rossio. Se a memória não me atraiçoa, o encerramento daquela via deveu-se ao perigo eminente de derrocada. Assim, de forma a minimizar o incómodo dos utentes que utilizam aquela via, iria proceder-se a uma rápida intervenção para reforçar a estrutura. O prazo de execução era de 13,5 meses, a partir do início de Julho de 2005, e devia ter sido concluída entre Agosto e Setembro de 2006. Iria custar cerca de 33 milhões de euros. A ideia era devolver aquela via o mais rapidamente possível, a quem dela tanto depende para chegar à capital.


Da preocupação com os utentes, partiu-se para uma obra que mais não é do que um exercício de pura vaidade e despesismo. Para quem tanto se preocupava com os utentes, três anos é bem demonstrativo. Bem, mas isso a mim pouco ou nada importa (com o mal dos outros posso eu bem). Agora, que para reestruturar 2600 metros sejam necessários 60 milhões de euros, “alto lá e pára o baile”. Só podem estar a gozar. 60 milhões? Para quê? Um túnel? 2600 metros? Espero bem que o mentor de tudo isto seja, no mínimo, despedido.


Agora pergunto: “Quanto é que já se gastou, por exemplo, com a Ponte D. Luís, no Porto?” Ao menos aquela ponte é um autêntico monumento. O seu estado não deve ser melhor, a julgar pela velocidade a que o metro lá passa (devagar, devagarinho e parado). Não se deveria fechar a circulação naquela via e proceder a uma reestruturação condizente? Afinal aquela ponte é um eixo ferroviário vital. Anda-se para ali com reacondicionamentos que não aquecem nem arrefecem e não se faz um trabalho definitivo. Tudo por razões económicas que, a meu ver, só se aplicam em alguns casos.


Enganem-se aqueles que pensam que esta reflexão é mais uma guerra de interesses entre Lisboa e o Porto. Eu até penso que aquelas regiões são das poucas que não tem nada a reclamar. Eu penso mais em Trás-os-Montes, no Alentejo, ou seja, nas regiões votadas ao abandono, em prol de uma politica centralista. Vai tudo para onde já há tudo! Está bem à vista a politica que nos governa. Fecham-se maternidades, centros de saúde, escolas. Descuram-se os cuidados de saúde dos cidadãos, que em alguns casos ficam entregues à sua própria sorte. E depois, gastam-se 60 milhões num túnel.


Eu diria que aquela inauguração, além de ser um acto praticado com a mais impune das vaidades é, acima de tudo, (mais) uma ofensa ao país.

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