O enclave Americano


O Kosovo, província Sérvia, declarou a sua independência de forma unilateral. Este facto, até poderia não ser muito relevante, não estivesse a falar de uma região que, para além da sua riqueza cultural, se constitui como um dos pontos de maior instabilidade da Europa.


Todos nós estudámos que a I Guerra Mundial eclodiu exactamente na região Sérvia, na cidade de Sarajevo, tendo sido despoletada por um nacionalista Sérvio que assassinou o Arquiduque Francisco Fernando, herdeiro do trono Austro-Húngaro. A Áustria-Hungria declarou guerra à Sérvia, e outras potências Europeias entraram, depois, no conflito. Na história mais recente, temos a guerra da ex-Jugoslávia, consumada numa região em que as incongruências étnicas, culturais e religiosas se misturavam de forma pouco consensual. Daí a divisão do grande estado Jugoslavo em múltiplos estados, caracterizados pela sua cultura e raízes próprias.


O Kosovo é o último destes casos. Só que aqui, as incongruências intrínsecas da grande Sérvia, bem como a ingerência extrínseca de outros estados, faz com que o pavio desta região possa de novo ser ateado.


O Kosovo, historicamente pertença da grande Sérvia, assenta a sua independência nos interesses de uma minoria étnico-religiosa que esteve na mira do extermínio de Slobodan Milosevic, os Muçulmanos, contra a maioria Ortodoxa. No entanto, a minoria conta com o apoio da potência Americana, que encontra assim um pretexto para poder fragilizar e marcar presença na Europa. Apoio este que, em si mesmo, é uma contradição, tendo em conta a política de ataque que a América mantém com o mundo Árabe, que apelida de terroristas em potência.


Assim, não foi de admirar que nos festejos, os populares erguessem a bandeira nacional (vermelha, com a águia bicéfala) e bandeiras Americanas, não se vislumbrando quase nenhum símbolo Europeu. Europa essa que vem suportando os custos da reconstrução e da ordem possível, numa região que se constitui agora num estado completamente artificial, com poucos ou nenhuns recursos, e sem uma estrutura capaz de alicerçar de forma sólida esse novo estado. Mais uma vez, será a Europa que vai, administrativamente e militarmente, suportar um estado “ligado á máquina”, por “imposição” da Administração Americana.


Para compor este quadro, temos, ainda, que ter em conta a Rússia, aliada e apoiante do lado Sérvio, e que, apesar de enfraquecida, não deixa de pesar no outro prato da balança. Quanto mais não seja, o seu poder de veto não irá permitir às Nações Unidas reconhecer oficialmente o estado do Kosovo.


Que desfecho para uma região já de si fragilizada pelo decurso da história? Isso só o tempo o dirá… Mas tal como dizia o nosso Presidente da República, o exemplo da independência unilateral do Kosovo, assente no apoio de estados que exercem uma politica influente a nível internacional (para além da América, a Inglaterra, França Alemanha e Itália), poderá reforçar e mesmo fazer emergir muitos outros movimentos independentistas. O País Basco e a Tchétchénia são só alguns exemplos.


Não se percebe como é que a América, um país com uma história tão recente, consegue impor, impávida e serena, a sua politica e as suas decisões no velho continente, influenciando os seus destinos. A intervenção do Presidente Bush, um dia antes da declaração da independência do Kosovo, só pode ser entendida como um acto provocatório e de desprezo pelas instituições europeias.


Pobre Europa que não consegue fazer depender de si mesma, as decisões com maior importância e relevância para o decorrer da sua história. Eu diria que o Kosovo, mais do que um estado artificial, pode ser entendido como um….. enclave Americano.


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