Uma questão de(s)Motivação


Mais uma vez o povo Português foi chamado a exercer o seu DIREITO e DEVER de voto, em relação às eleições para o Parlamento Europeu. E mais uma vez, a maioria não respondeu à chamada. Alguns “opinion makers” apressaram-se a justificar essa ausência, por se tratar de uma matéria para a qual as pessoas se sentem pouco motivadas. Pois eu não partilho dessa opinião. Nas próximas eleições Autárquicas e Legislativas, cá estaremos para avaliar o grau de motivação dos Portugueses em matérias que lhes são bem mais próximas. Por outro lado, que obrigação teriam os Portugueses, para aderirem em massa a uma votação para o Parlamento Europeu, quando os seus próprios governantes se recusaram a realizar um referendo sobre o Tratado de Lisboa, alegando ignorância do povo Português em relação a tal matéria? Em boa verdade, que sabem os Portugueses sobre o funcionamento do Parlamento Europeu, e da sua influência nas nossas vidas? Se calhar esta “violenta” abstenção está em sintonia com o que pensam as pessoas que dirigem os nossos destinos.

Enganam-se aqueles que pensam assim. Esta falta de motivação reside na descrença que a pouco e pouco vem tomando conta de toda a população em relação ao funcionamento das nossas instituições e que se reflecte na decadência da nossa sociedade e da nossa Democracia. A Democracia está em crise. Portugal está em crise.

A Justiça está em crise. Não consegue dar resposta aos casos mais mediáticos, que envolvem políticos, figuras públicas e o mundo do futebol. Com os processos a arrastarem-se sem que sejam proferidas sentenças conclusivas. São exemplos o caso Freeport e Casa pia. A constante violação do segredo de justiça, que só pode ser atribuída a quem está dentro dos processos e do próprio sistema jurídico, permite aos envolvidos organizarem as suas defesas de forma mais “inteligente”. É o descrédito total. Existem duas Justiças. As dos pobres e desconhecidos e a dos poderosos e ricos. É caso para dizer que a Justiça não é cega.

Os políticos eleitos defendem os interesses dos grandes grupos económicos em detrimento dos interesses da maioria da população e dos mais desfavorecidos. Um exemplo disso foi a forma vil, com que o Ministério da Saúde veio por cobro à intenção da Associação Nacional de Farmácias, para que os utentes pudessem optar, no momento da compra, por medicamentos genéricos. Entre os interesses da ANF e o dos Laboratórios farmacêuticos, o governo defendeu os interesses que menos iriam beneficiar a população. Os políticos não cumprem o que prometem. Tal como eu já aqui tinha referido (http://nmcsilva.blogspot.com/2007/12/tratado-de-lisboa.html ), antes de ser eleito, o PS era a favor do referendo sobre o Tratado de Lisboa. Depois de ter sido eleito, voltou com a palavra atrás. Os políticos estão constantemente envolvidos em casos de fraude e corrupção. Basta folhear as páginas dos jornais para comprovar. Por seu lado os tribunais não resolvem muitos desses casos em tempo útil, dando espaço à prescrição e ao prolongamento interminável dos processos nas várias instâncias. Os políticos, ao verem-se envolvidos em suspeitas, em vez de se demitirem ou suspenderem os seus mandatos, daquilo que deveria ser um “serviço público”, mantêm-se firmes nos seus “tachos”. Como se fossem donos do Poder, quais ditadores dos seus pequenos mundos. Os políticos, desafiando a lei da física, candidatam-se aos mais variados cargos simultaneamente. Chegam mesmo a abandonar a meio os seus mandatos para se candidatarem a cargos mais vantajosos, em total desrespeito para com os votos que lhes foram confiados.

O Sistema Financeiro não transmite a confiança e a solidez, própria de uma democracia saudável. Como se fosse normal, numa Democracia Europeia, o colapso de instituições financeiras, por incúria das suas administrações, que fizeram as operações que bem entenderam, nas barbas do Baco de Portugal. Alguém acha que, nos dias que correm, sejam possíveis movimentos financeiros, sem que o mercado e quem supervisiona esse mercado, dê por isso? E o poder politico, qual Pilatos, lava as suas mãos e entrega o destino de uma decisão ao sistema jurídico, que como já vimos, nos casos mediáticos e que envolvem interesses poderosos, não funciona. Uma coisa é certa, se o Estado não dá garantias aos clientes dessas instituições, não vão ser os tribunais a fazê-lo. Quando muito pode dar-lhes razão.

Pois é. Mas insistem em justificar a falta de vontade em votar, com a ignorância do Povo.

Parafraseando o nosso Presidente da República:

“Os votos só aumentam com organismos políticos prestigiados”

Pensem nisto…


Comentários

Anónimo disse…
Começo por cumprimentar e felicitar o autor do blog, pelos temas aqui descritos.
Temas diversificados, de leitura agradável, informativa, de interesse actual.

É verdade!
Pela primeira vez abri este blog com alguma tranquilidade. Dei comigo a ler estas páginas, através das quais se reflecte o descontentamento de um Bom Português. Digo bom português, porque, só quem ama a Pátria, se preocupa com o seu crescimento, ou com a sua destruição.
E, de facto, o que estamos assistir diariamente, impávidos, sem nada fazermos, é sem dúvida, a destruição de um país com uma história, de que todos nos devíamos orgulhar: um país que se fez grande entre os maiores, e hoje, não deixa de ser um joguete nas mãos de alguns fantoches, que tomaram ao seu cuidado o destino do povo Português.
Mas, quem lhes concedeu esse poder?! Não foi o mesmo povo português? E, se o povo não está contente, não deveria mostrar seu descontentamento?! E, como fazê-lo, se não, através da única arma que temos? O voto!
Estou de acordo com a descrição que fazes do panorama português!
Estou de acordo, quando dizes que os políticos são uns palhaços, corruptos, que a justiça não funciona. No entanto, não estou de acordo, em que nos limitemos a criticar sem nada fazer.
Mas, o que poderemos fazer, a não ser, usando a única arma que temos?! Ou seja, exercer o nosso direito de votar?
Na minha humilde opinião, penso, que, não é ficando em casa, que vamos resolver os problemas. Deve haver outra forma de demonstrar nosso descontentamento. Sei que a abstenção foi significativa. Mas, seria só descontentamento, ou alguma falta de civismo à mistura? Mesmo sendo eleições Europeias, deveriam votar, ainda que votassem em branco, mostrando assim seu repúdio pela politica e os políticos que temos.
Espero que, para as próximas eleições, o povo português adira, e demonstre seu desagrado, mas, votando! Votando com determinação, com convicção, com vontade de mudar, mas, uma mudança radical, tão radical, que marque a história triste da nossa democracia.
Viva Portugal! Meu jardim de flores, plantado à beira mar. Onde a terra acaba, e o mar começa.
Vamos, de pena, com pena na mão, desenhar um novo futuro para o nosso país.
Até breve! E, boa continuação… boa escrita!

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